Os verdadeiros parentes de Jesus, Mt 12.46-50
(Mc 3.31-35; Lc 8.19-21)
Falava ainda Jesus ao povo, e eis
que sua mãe e seus irmãos estavam do lado de fora, procurando falar-lhe. E
alguém lhe disse: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem falar-te. Porém
ele respondeu ao que lhe trouxera o aviso: Quem é minha mãe e quem são meus
irmãos? E, estendendo a mão para os discípulos, disse: Eis minha mãe e meus
irmãos. Porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu
irmão, irmã e mãe.
Desconheceríamos o verdadeiro
objetivo dessa visita, se o relato de Marcos, neste como em
diversos outros casos, não
complementasse o relato dos demais sinóticos. De acordo com Marcos,
havia chegado até os irmãos de
Jesus o boato de que ele estaria num estado de perturbação próximo
da demência. Era o eco da
acusação dos fariseus (v. 24): “Ele expulsa os demônios através de
Belzebu”. Por isso seus irmãos
vieram com o objetivo de levá-lo para casa (Mc 3.21). Também no
evangelista João observamos que,
naquele tempo, os irmãos de Jesus assumiram, como em Marcos,
uma atitude de dúvida e mesmo
hostilidade perante Jesus. Em parte alguma é dito que Maria
compartilhava a opinião de seus
filhos. Porém é possível que ela previa um acontecimento
desagradável entre eles em
público e por isso desejava que pudesse minimizá-lo e talvez até evitá-lo.
Não queremos abordar aqui com
detalhes a pergunta quem seriam esses irmãos (cf. nosso
comentário sobre Jo 2.12). É
certo que a explicação dos termos “irmão” e “mãe” deve ser entendida
de modo bem natural e literal. O
Senhor foi interrompido em seu discurso, sendo-lhe anunciado que
sua mãe e seus irmãos estavam lá
fora, desejando falar com ele. Imediatamente Jesus entendeu o
significado dessa mensagem. Havia
chegado um dos momentos mais dolorosos da sua vida.
Precisava afirmar sua vocação
divina contra sua mãe e seus irmãos. Não podia dar razão ao objetivo
deles. Eles tentavam fazê-lo
vacilar diante de todo o povo, provavelmente sem mesmo se darem
conta disso. Portanto, Jesus
tinha de defender a sua missão por meio de uma atitude inabalá vel, mas
também salvar a fé deles. Ele
exerceu esse rigor da maneira mais cuidadosa possível. Olhou para
seus discípulos, assentados ao
redor, dizendo solenemente: Minha mãe e
meus irmãos são somente
aqueles que fazem a vontade de
meu Pai no céu.
Por meio dessa declaração ele
reafirma, acima de tudo, o seu maior princípio, a saber, realizar a
vontade do Pai no céu. Ao mesmo
tempo consolou sua família espiritual, que naquele instante não
duvidava dele, enquanto sua
família de sangue parecia vacilar. E, em terceiro lugar, ele menciona a
condição sob a qual espera poder
encontrar seus irmãos novamente. Ele espera que retornem à plena
confiança e obediência ao Pai no
céu. Foi isso o que aconteceu. Entre os fiéis da Páscoa encontram-se a mãe e os
irmãos de Jesus. A delicada recusa com uma exortação indireta constituiu-se num
evangelho para eles:
“Arrependam-se e creiam em mim!” (cf. M. Kähler: “Vinde e vede”).
Portanto, de forma alguma a resposta
de Jesus contém uma negação do valor da família. Mas para
ele existem laços mais estreitos
que os de sangue. Especificamente para ele a vida de família, depois
de seu batismo, podia ter um
valor subordinado, porque ele foi incumbido de uma missão que
envolve a humanidade toda. Por
outro lado, há muito ele havia encontrado
uma família nas mulheres
que o acompanhavam e cuidavam
dele maternalmente, e nos discípulos que participavam com
dedicação da sua obra. Em torno
dessa nova relação de cunho espiritual e eterno é que foram tecidos
os laços verdadeiros, enquanto
que os laços sangüíneos são apenas exteriores e passageiros. Nessa
afirmação de Jesus expressa-se um
profundo vínculo e gratidão por essas pessoas que se sacrificam
pela causa dele. No sentido
espiritual aqui expresso, Jesus não fala de um pai, pois essa posição
compete unicamente a Deus
Fonte:
Mateus - Comentário Esperança
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