SUBSÍDIO TEOLÓGICO
Apocalipse 1.3
Bem-aventurados aqueles
que leem (em público) e aqueles que ouvem as palavras da profecia. Neste
momento lançamos uma olhada sobre a igreja reunida. O leitor (conforme traduz
Lutero) é o preletor público. Naquele tempo, para muitos membros da igreja esta
modalidade constituía a única possibilidade de conhecer a Sagrada Escritura. A
leitura pública é pressuposta em muitas ocasiões (Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22;
13.9; 22.17,18). O Apocalipse pode ser lido em voz alta em aproximadamente uma
hora e quinze minutos, ao contrário de muitos apocalipses judaicos extremamente
longos.
João espera que, quando
comunicada às pessoas, sua mensagem seja confirmada por Deus, o Revelador, e
por Cristo, o Mediador: ―Bem-aventurados (Felizes [BLH]) são o leitor e os
ouvintes! Por trás de João estão a boca de Jesus e a boca de Deus. Ele não
escreve para a leitura em particular ou para círculos especiais, mas para comunidades
e sua audiência pública.
Eles devem guardar as
coisas nela escritas. Este cumprimento é um cuidado muito especial que, numa
concentração dedicada, está dirigido à própria causa. Bem-aventurado é quem
abre os olhos para a palavra profética, quem aguça o ouvido, afia a reflexão,
dispõe as emoções, enrijece a vontade e reúne paciência para ela. Guardar,
neste ponto haveria muito a perder: tudo!
A bem-aventurança é
fundamentada por uma exclamação a respeito da proximidade da salvação: pois o
tempo está próximo. Também esta exclamação acerca da salvação faz parte da
moldura e do teor do livro (Ap 22.10). Cada frase tem a intenção de servir à
mensagem do fim próximo dos tempos. ―Tempo define aqui uma determinada hora. Deus faz cortes no curso do tempo, define
prazos e cria oportunidades. Estas horas de Deus são os pontos de guinada e
recomeço da história. Quando é usado, como no presente texto, sem maiores
definições, o tempo representa o prazo para a implantação final do domínio de
Deus (cf. Ap 11.18). A expectativa escatológica imediata não era para os
primeiros cristãos uma condição passageira de superaquecimento religioso. Sua
existência é encarada seriamente ainda no primeiro século, agora em vias de
terminar, como também em todos os séculos subsequentes.
Apocalipse 1.10
As duas visões principais
do livro são destacadas desde já pela introdução especialmente minuciosa e
solene (aqui e em Ap 4.2): Achei-me em espírito. No presente texto, o Filho do
Homem, que é o Senhor e Juiz da igreja, está prestes a aparecer. Em Ap 4.2
começa a contemplação de Deus, o Senhor e Juiz de todo o mundo.
O que acontece com o
profeta não é descrito em parâmetros psicológicos. Neste caso deveriam ocorrer
conceitos muito diferentes. Deve-se partir do pressuposto de que João estava
para ser capacitado para efetuar olhares perspicazes sobre o sentido da
história, ou seja, o devem de Ap 1.1. Como ser humano de carne e sangue, ele
não depreendia nenhum sentido da história. Pessoas estão continuamente passando
por experiências cujo sentido não conhecem ou sobre cujo sentido se enganam. Um
acontecimento, do qual elas desfrutam com prazer, poderia ser parte de uma
história de desgraça, ou outro, no qual sofrem imensamente, poderia na verdade
ser integrante de uma história de salvação. Também neste contexto vigora a
regra de que carne e sangue não podem ver o reino de Deus. Por isso o profeta
experimenta que está sendo arrancado de todas as inibições e percalços pessoais
para dentro da esfera do Espírito de Deus, muito acima de sensações subjetivas.
Do alto se vê mais. O Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as
profundezas de Deus (1Co 2.10).
Isso aconteceu com João em
Patmos no dia do Senhor. Na Bíblia é somente no presente versículo que aparece
essa designação de dia, ao passo que é cada vez mais frequente na literatura
cristã imediatamente posterior ao NT. É usada unanimemente como designação
cristã do primeiro dia da semana, como recordação da ressurreição do Senhor.
Como dia da ressurreição e como oitavo dia ele na verdade também aponta para a
nova criação no grande dia vindouro de Deus. Seguramente uma mera indicação de
calendário não teria tido importância suficiente para João. Ao citar o domingo
ele destacou uma dupla relação. Por um lado era o dia da reunião, no qual sabia
que as igrejas do continente estavam reunidas para adorar o Ressuscitado. Por
outro lado era o dia da esperança, que dirigia seus sentidos para a consumação
e a renovação do mundo.
E ouvi, por detrás de mim,
grande voz. A visão começa com uma audição (experiência auditiva). De trás (cf.
Ez 3.12) surpreende-o uma voz. Ela não tem nada a ver com suas próprias vozes,
expectativas e esforços. O profeta é arrancado da sua realidade própria e
colocado dentro do que Deus é. O Senhor… desperta-me o ouvido para que eu ouça
como os eruditos (Is 50.4). A voz tem uma potência como de trombeta. O som,
trata-se de um instrumento para dar sinais, com um ou no máximo dois tons, deve
ter sido mais volumoso que belo: áspero, penetrante, estrondoso. Ele foi
comparado ao trovão, ao berro de um burro ou ao rugido de um leão. Trata -se de
um som difícil de descrever, sobrenatural e assustador.
Apocalipse 1.11
A voz celestial
desconhecida falou: O que vês escreve em livro. João não podia transmitir as
visões oralmente aos destinatários. Contudo, essa justificativa para a ordem de
escrever ainda não é suficiente. Ocasionalmente profetas do AT já haviam anotado a sua mensagem por escrito,
a fim de assinalar sua importância singular (p. ex., Jr 36; Hc 2.2). Dando sua
palavra por escrito, Deus se compromete. Ele compromete os ouvintes: Eu te dei
tudo por escrito! Essa palavra vale. Ela vigora além do instante. Ela também
vale para outros que não estão presentes aqui e agora. Ela compromete de forma
geral.
Cabe abordar aqui a
diferença entre a profecia cristã em geral e essa palavra profética. Já em Ap
1.1 transpareceu, e será sublinhado em Ap 11.1-13, que João podia considerar
toda a comunidade como profética. Apesar disso, conforme Ap 1.3, reservou para
o seu livro uma posição singular. Essa reivindicação é justificada por sua
vocação peculiar em Patmos. Ela foi iniciada de imediato com uma ordem de
escrever (v. 11) e, em seu ponto culminante, foi mais uma vez coroada por
intermédio desta ordem de escrever (v. 19). Essa ordem repercute em todo o
livro (Ap 2.1,8,12; 3.1,7,14; 10.4; 14.13; 19.9; 21.5). Corresponde-lhe a
menção enfática de que essa profecia tem o formato de um livro (Ap 1.11;
22.7,9,10,18,19). Portanto, o ato de escrever ocupa de tal modo o centro que
evidentemente possui importância teológica. Eleva esta profecia a uma categoria
normativa para todo a profecia cristã no futuro. É preciso que de agora em
diante nos movamos nos parâmetros aqui delineados, todos os profetas depois
deste profeta encontram-se na tradição dele. Ele próprio, porém, funda
tradição. Neste sentido é que vigora a sua incumbência: escreve! Obviamente
também profetas cristãos posteriores e mesmo atuais poderão anotar suas
palavras por razões práticas, mas jamais se tornarão profetas da Escritura em
sentido teológico através disso.
E manda(-o) às sete
igrejas: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia.
Essas cidades eram sedes administrativas e já por isso áreas de concentração do
culto ao imperador. A listagem segue o roteiro postal da capital Éfeso para o
Norte até Pérgamo, depois para o interior e novamente para o Sul, um trajeto de
aproximadamente 400 km. Já abordamos no comentário a Ap 1.4 o sentido simbólico
do número sete: além das comunidades locais arroladas, João reivindica atenção
de todas as igrejas de todos os lugares e épocas. |
Muito Bom! Vai ser uma Benção a EBD! Que Deus os Abençõe!
ResponderExcluir