Sobre o
arrependimento O Salmo 51 é o quarto dos “salmos penitentes”, e por
meio dele o AT chega à análise mais real e genuína sobre o pecado e seu
remédio. Perowne diz de maneira incisiva: “Este Salmo é uma oração,
primeiramente, por perdão, com uma confissão humilde de atos pecaminosos
provenientes de uma natureza pecaminosa como sua raiz amarga; e, depois, por
renovação e santificação através do Espírito Santo”. O título indica a autoria
de Davi e associa o salmo à confissão do seu pecado com Bate-Seba. Este
episódio trágico na vida de Davi parece ter dado a ele uma profunda compreensão
da verdadeira natureza do mal. Por trás da culpa da sua transgressão ele
encontra a mancha mais profunda de uma natureza pecaminosa com a qual ele
nasceu Por esse motivo, ele expressa essa oração dupla em
busca de uma cura duplicada. O salmo é todo ele dirigido a Deus. Morgan
escreve: “A alma penitente clamava por perdão com base na confissão.
Subitamente, a intensidade da convicção se aprofunda à medida que o ato
pecaminoso é rastreado até chegar à causa na contaminação da natureza. Isso
leva a um clamor mais profundo. Enquanto o primeiro clamor é por perdão, o
segundo é por pureza, por limpeza de coração e renovação de espírito. A oração
continua na busca das coisas que seguem essa purificação, a manutenção da
comunhão e a percepção da alegria. Olhando para o futuro com esperança, o
cântico antevê o tipo de culto de ações de graça e louvor que provém desse
perdão e purificação”. Oesterley descreve esse salmo como aquele que entre os
salmos de penitência é “o que mais profundamente examina o coração” e afirma:
“Não existe outro salmo no Saltério com a mesma compreensão do sentido do
pecado, apresentado com tamanha transparência e integridade”. 1. Perdão (51.1-4) Este salmo não é um estudo teológico bem elaborado,
mas um clamor apaixonado de um coração profundamente atribulado. Portanto, não
existe nenhuma análise cuidadosa das diferenças entre atos pecaminosos e a
natureza pecaminosa, entre a necessidade de perdão e o apelo por pureza. No
entanto, existe um movimento natural de pensamento, que inicia com um clamor
por perdão, e segue com a percepção mais profunda do problema, depois com a
oração por pureza e a promessa de louvor e serviço. A misericórdia e benignidade
de Deus são a base do seu clamor: apaga as minhas transgressões. Davi sentiu
uma culpa profunda por sua conivência, mentira, adultério e, finalmente,
assassinato. Por trás dessas transgressões ele consegue enxergar a raiz e causa
e ora para que o Senhor o lave completamente da sua iniquidade e o purifique do
seu pecado. Ele não procura encobrir ou
desculpar a profundidade da sua necessidade. Embora outros tivessem sido
tremendamente injustiçados, na essência todo pecado é visto como sendo contra
Deus, e Deus será o Juiz. A última parte do versículo 4 pode ser corretamente
entendida da seguinte forma: “Sim, tu és justo em tua acusação e justa é a tua
sentença” (Moffatt). 2. Problema (51.5-9) A convicção se aprofunda ao incluir não somente o
que o salmista fez, mas o que ele era por natureza: Em iniquidade fui formado;
concebido em pecado. As tendências e disposições pecaminosas têm sua origem na
contaminação da raça humana, parte da dívida do homem como nascido de uma raça
caída. Deus deseja a verdade (“emeth”, autenticidade, fidelidade, integridade)
no íntimo. No oculto me fazes conhecer a sabedoria tem sido traduzido como:
“Portanto, ensina-me a sabedoria no secreto do meu coração” (RSV). Esta percepção leva a uma oração renovada por
purificação. Hissopo era o ramo do arbusto do deserto usado para borrifar o
sangue sobre um leproso para sua purificação e cura (Lv 14.4; cf. Hb 9.13-14; 1Jo
1.7). Lava-me é uma expressão impressionante no original. Lawrence Toombs
explica: “A língua hebraica emprega duas palavras para se referir a ‘lavar’. A
primeira é aplicada para lavar o corpo, a louça de cozinha e, em geral,
qualquer objeto que possa ser mergulhado em água ou sobre o qual se possa
derramar água. A segunda é uma palavra quase que específica para lavar
vestimentas ao batê-las com uma vara ou ao batê-las enquanto estão estendidas
sobre uma pedra plana submersa em água. O salmista escolhe deliberadamente a
segunda palavra, rejeitando, por implicação, a metáfora de um banho quente em
que o sabão tira agradavelmente a sujeira enquanto o banhista se deleita. Ele
sabe que o pecado está tão profundamente entrincheirado em sua natureza que
Deus literalmente precisa tirá-lo com batidas”. Mais alvo do que a neve, ou
seja, sem nenhuma partícula de poeira ou fuligem nos flocos de neve (cf. Is
1.18). A convicção de pecado era tão profunda, que era
semelhante à dor de ossos quebrados. Perowne escreve: “Os ossos constituem a
força e estrutura do corpo. Por isso o esmagar dos ossos [é] uma figura muito
forte, que denota uma prostração completa, tanto mental como corporal”. A
intervenção e a ação de Deus são a única esperança do salmista. 3. Pureza (51.10-13) Os resultados da purificação e do lavar serão a
criação de um coração puro e o renovar de um espírito reto. Cria “é usado na
operação criativa de Deus, trazendo à existência o que não existia antes. [...]
O salmista não deseja uma restauração do que existia antes, mas uma mudança
radical do coração e do espírito”.85 Espírito reto é um “espírito estável”
(NVI), ou “espírito inabalável” (ARA), “firme e resoluto em sua lealdade a
Deus, inabalável diante dos ataques da tentação. Esse tipo de coração limpo e
espírito estável, a condição para a comunhão com Deus, o emergir de uma vida
santa, só pode vir do poder doador de vida e criativo de Deus”. Esta purificação assegurará a presença de Deus e a
plenitude do seu Espírito Santo. Esta é uma das três vezes em que o AT fala do
Espírito Santo com essa exata fraseologia. As outras duas são encontradas em um
contexto similar em Isaías 63.10-11. A pureza também resultará na alegria da
sua salvação, e a manutenção de um espírito voluntário ou “pronto a obedecer”
(NVI). Mais um resultado será o ensino dos caminhos de Deus aos transgressores
e a conversão dos pecadores (13; cf. Jo 16.7-11; At 1.8). 4. Promessa (51.14-19) O salmo conclui, como os salmos penitentes
normalmente fazem, com uma promessa de louvor e ações de graça. Deus não pode
ser satisfeito com sacrifícios e holocaustos. Seus sacrifícios são o espírito
quebrantado. Um coração quebrantado e contrito Ele não desprezará. No versículo
18, o interesse se amplia para incluir Sião e Jerusalém. O versículo 19 mostra
que não era o ritual em si que era ofensivo a Deus, mas o ritual sem justiça.
Agrada-se a Deus com holocaustos e com sacrifícios de novilhos quando o ritual
vem da motivação correta e é a expressão de um coração amoroso e obediente. Alguém disse certa vez que a melodia desse hino de
oração é composta por cinco notas. 1) A nota pesarosa do pecado, versículos
1-2. 2) A nota séria da responsabilidade. Davi não culpou ninguém, nem mesmo
Bate-Seba. Os pronomes pessoais abundantes na oração indicam a completa
honestidade de Davi na confissão, versículos 3-6. 3) A nota decisiva de
arrependimento. Davi renunciou ao pecado para sempre, versículos 3-6. 4) A nota
alegre do perdão e limpeza, versículos 7-14. 5) A nota certa do testemunho,
versículos 12-13,15. A graça de Deus pode transformar o mais vil pecador em uma
testemunha ardente dele (Earl C. Wolf). Extraído do
Comentário Bíblico Beacon – volume 3. Uma semana abençoada para todos os irmãos na Graça e
na Paz do Senhor Jesus Cristo! Márcio Celso REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Editora Betel 2º
Trimestre de 2020, ano 30 nº 115 – Revista da Escola Bíblica Dominical - Adultos
– Professor – A família natural segundo os valores e princípios cristãos –Salmos
– Uma referência para a vida de adoração e oração do cristão – Pr. Adriel
Gonçalves do Nascimento. Sociedade Bíblica
do Brasil – 2009 – Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Revista e
Corrigida. Sociedade Bíblica
do Brasil – 2007 – Bíblia do Obreiro – João Ferreira de Almeida – Revista e
Atualizada. Editora Vida –
2014 - Bíblia Judaica Completa – David H. Stern, Rogério Portella, Celso
Eronildes Fernandes. Editora Vida –
2014 – Bíblia de Estudo Arqueológica – Nova Versão Internacional. Editora Central
Gospel – 2010 - O Novo Comentário Bíblico – Antigo Testamento – Earl D.
Radmarcher, Ronald B. Allen e H. Wayne House – Rio de Janeiro. Editora Central
Gospel – 2010 - O Novo Comentário Bíblico – Novo Testamento – Earl D.
Radmarcher, Ronald B. Allen e H. Wayne House – Rio de Janeiro. Editora Vida –
2004 – Comentário Bíblico do Professor – Lawrence Richards. Editora Central
Gospel – 2005 – Manual Bíblico Ryken – Um guia para o entendimento da Bíblia –
Leland Ryken, Philip Ryken e James Wilhoit. Editora CPAD –
2017 – História dos Hebreus – Flávio Josefo. Editora Vida –
2014 – Manual Bíblico de Halley – Edição revista e ampliada – Nova versão
internacional – Henry Hampton Halley – tradução: Gordon Chown.
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