Sobre os nossos
questionamentos perante o Senhor O Livro III dos Saltério consiste em dezessete
salmos, do 73 ao 89. Todos têm títulos indicando nomes pessoais: onze são de
Asafe, três de Corá, um de Davi, um de Hemã e um de Etã. Todos os tipos de
salmos estão representados, com exceção do salmo de penitência; seis salmos de
lamentação, cinco de culto, adoração, louvor e ações de graça; três de
sabedoria, um imprecatório, um litúrgico e um messiânico. Alguns dos salmos
mais admiráveis e preciosos do Saltério estão nessa seção. Salmo 73: O Problema dos Ímpios que Prosperam, 73.1-28 Tipificado como literatura sapiencial, o Salmo 73 é
o primeiro de um grupo de onze ligados a Asafe pelo título ou sobrescrito. Ele
trata do mesmo tema abordado pelos Salmos 37 e 49: Por que um Deus justo
permite que o ímpio prospere e o justo sofra e seja afligido? Uma boa parte da
literatura sapiencial no AT reflete essa questão. Os provérbios ressaltam a
bênção dos justos e a miséria dos transgressores. Jó examina essa tese do ponto
de vista de um homem justo que sofreu muito. Eclesiastes trata desse tema tendo
como referência um homem um tanto vaidoso e cínico que não era “demasiadamente
justo” (Ec 7.16), mas que, mesmo assim, “tinha tudo” no que diz respeito à
riqueza, cultura, prazer e luxo. Muitos estudiosos têm comentado acerca da semelhança
entre o Salmo 73 e o livro de Jó. Robinson diz: “O autor do Salmo 73, por
exemplo, semelhantemente ao grande poeta que escreveu o livro de Jó, deparou
com a questão do sofrimento e suas consequências, e nos leva a participar da sua
própria batalha espiritual”. Oesterley comenta: “Em certo sentido, esse salmo é
um resumo e símbolo do livro de Jó [...] ele lida com o mesmo problema, segue a
mesma linha de pensamento e oferece um dos poucos esboços do AT acerca da
genuína doutrina da imortalidade [...] Surge um problema no pensamento
religioso, assim como ocorre na ciência, por conta de um choque aparente entre
teoria e fato. Ou a teoria precisa ser abandonada ou outros aspectos da verdade
precisam ser elucidados para alinharem os fatos discordantes no plano universal.
A teoria aqui é o caráter de Deus, conforme revelado pelos grandes profetas; o
fato conflitante é a aparente injustiça e desigualdade da retribuição divina. 1. O
Problema dos Justos (73.1-3) Os primeiros três versículos relatam, de maneira
sucinta, o problema espiritual do salmista. Sua fé afirma o fato de que Deus é
bom para com Israel [...] para com os limpos de coração (1). Os puros de
coração certamente são abençoados (Mt 5.8). O salmista parte dessa fé e retorna
a essa mesma fé. Mas antes disso, certos fatos devem ser trazidos para o foco
certo. Ele viu seus pés espirituais quase se desviarem (2) e disse: Eu tinha
inveja dos soberbos, ao ver a prosperidade dos ímpios (3). Os homens sempre
serão levados a lutar com os problemas apresentados pelo sucesso aparente e a
prosperidade dos ímpios e de homens sem escrúpulos, e o sofrimento e as
privações suportados por aqueles “dos quais o mundo não era digno” (Hb 11.38).
Muitos permitem que suas perguntas se transformem em dúvidas prejudiciais em
relação à justiça e bondade de Deus. 2. A
Prosperidade dos ímpios (73.4-12) A riqueza, o orgulho e a prosperidade dos ímpios são
descritos em termos vívidos. O fato de isso não ocorrer com todos os injustos
não obscurece a realidade de ser verdade para muitos. Não há apertos na sua
morte, mas firme está a sua força (4) pode ser traduzido como: “Eles não passam
por sofrimento e tem um corpo saudável e forte” (NVT). Eles parecem estar
livres de “canseiras” (5; ARA), seguros na sua soberba e incontrolados na sua
violência ou conduta sem escrúpulos (6). No meio de um povo primitivo que
sempre está à beira da fome, os ímpios têm mais do que o seu coração deseja
(7). Sua conversa é cínica e perversa, presunçosa e blasfema (8-9). Os
versículos 10-11 são traduzidos de maneira mais clara por Moffatt: “Por isso o
povo se volta para eles e não vê nada de errado neles, pensando: ‘Quanto Deus
se importa? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?’” Apesar da sua impiedade,
esse povo prospera e os seus habitantes estão sempre em segurança, e se lhes
aumentam as riquezas (12). 3.
Progresso rumo à Solução (73.13-20) A luz do que havia observado, o salmista foi levado
a questionar se ele havia em vão purificado o seu coração e lavado as suas mãos
na inocência (13). Se os ímpios “progridem”, por que se preocupar em ser bom?
Na verdade, castigo e aflição têm sido sua sorte (14). O versículo 15 mostra
que, mesmo que tenha pensado essas coisas, ele não expressou suas dúvidas em
voz alta — porque ao fazê-lo “teria traído os teus filhos” (NVI). Ele havia
guardado as suas dúvidas para si mesmo. Mesmo assim, a sua ponderação era
dolorosa: Fiquei sobremodo perturbado (16). Finalmente a luz invade a escuridão quando ele entra
no santuário de Deus (17). Então ele vê que o Senhor não acerta imediatamente
as contas com todos. De modo súbito, ele entende que o ímpio que prospera, a
quem ele havia insensatamente invejado, foi colocado em lugares escorregadios
(18) e destinado à destruição (18). Desolação e terrores são o seu destino
(19). Como tudo muda em um sonho (20) no momento em que se acorda, assim
ocorrerá quando Deus “acordar” para julgar; tudo será invertido, como ocorreu
com o rico e Lázaro (Lc 16.19-31). Desprezarás a aparência (“imagens”,
Berkeley) deles. Lawrence Toombs expressou, de modo eloquente, a
seguinte percepção: “Não raras vezes, como no caso do salmista, a situação é
vista de uma maneira diferente no santuário do que quando se está no mundo. O
salmista sentiu que a dificuldade estava no seu ambiente. No santuário ele
percebeu que a dificuldade estava nele mesmo [...] No santuário, o centro da
vida do salmista foi mudado de si próprio para Deus [...] A mudança de foco
possibilitou uma revelação surpreendente. Mesmo na sua pobreza e opressão, ele
possuía a única coisa no mundo digna de valor: a presença de Deus em sua vida
(23). Estar com Deus, ter sua orientação e conselho e ser o herdeiro das suas
promessas (24) é um tesouro que, em comparação com as posses das pessoas do
mundo, é de maior valor [...] A prosperidade dos ímpios era um sonho. A presença
de Deus era a realidade. 4. A
Perspectiva da Eternidade (73.21-28) A nova percepção trouxe uma confissão imediata e
humilde (21-22; cf. Jó 42.3-6). Os rins (21) simbolizavam os sentimentos ou a
consciência. Muitas vezes, quando surge uma nova luz, nós nos perguntamos: Por
que não vi isso antes? A presença contínua de Deus era o maior tesouro que a
vida podia oferecer (23). A orientação aqui e a glória no futuro são a certeza
dos santos (24). Quem poderia desejar mais? No céu ou na terra, nada podia ser
melhor do que a presença do próprio Senhor (25). Embora o corpo se torne fraco
e finalmente desvaneça, Deus será a sua porção para sempre (26). Os
comentaristas discordam em relação à clareza que o salmista tinha ao visualizar
a glória além-túmulo. Certamente o que Oesterley observa é verdadeiro: “Aqui
mais uma vez se expressa a condição primária para a vida no futuro: comunhão
com Deus. Mas nesse salmo podemos perceber, de forma mais completa, o resultado
dessa comunhão. A união com o Deus eterno e imutável não pode ser interrompida
pela morte. Como durante a vida nesta terra Deus está com o seu servo, assim no
mundo vindouro Deus estará com ele. Na presença de Deus há vida”. Os versículos 27-28 apresentam um resumo claro
acerca do destino final totalmente diferente dos ímpios e dos justos: Eles
perecerão e serão destruídos (27). Mas, para mim, bom é aproximar-me de Deus;
pus a minha confiança no Senhor Deus, para anunciar todas as tuas obras (28). A
expressão: apostatando, se desviam de ti (27) descreve a infidelidade
espiritual contra o Amante das suas almas. Salmo
77: Canção em vez de Pesar, 77.1-20 Este é um salmo de lamentação que, como tantos
outros do seu tipo, começa na sombra da tristeza e termina com um cântico de
alegria. Acerca dos termos do título veja: “Jedutum”, Introdução do Salmo 39 e
“Asafe”, Introdução do Salmo 50. A caracterização desse Salmo por Morgan é
significativa: O versículo 10 é o
pivô desse salmo, passando da descrição de uma experiência de escuridão e
tristeza para a descrição de alegria e louvor. A primeira parte relata uma
tristeza que está esmagando a alma. A segunda descreve um cântico que é o
resultado de uma visão que apagou a origem da tristeza. Na primeira parte, uma
grande enfermidade ou debilidade obscurece o céu, e não se ouve nenhum cântico.
Na segunda parte, vemos o irromper de um grande cântico, e a tristeza é
esquecida. A diferença está entre um homem que se preocupa com as dificuldades
e um homem que vê Deus entronizado lá no alto. Na primeira parte, o ego predomina.
Na segunda, Deus é visto em sua glória. Um aspecto muito simples desse salmo
deixa isso perfeitamente claro. Nos versículos 1 a 9, o pronome pessoal da
primeira pessoa ocorre vinte e duas vezes, e há onze referências a Deus por
nome, título e pronome. Na segunda parte, há apenas três referências pessoais e
vinte e quatro menções de Deus. A mensagem do
salmo é que focar na tristeza deixa a pessoa quebrada e desanimada, enquanto
olhar para Deus faz com que a pessoa cante mesmo no dia mais escuro. Quando nos
conscientizamos de que nossos anos estão nas mãos dele, encontramos luz por
toda parte e nosso cântico se eleva”. Visto que o salmo é basicamente um lamento pessoal,
nenhuma ocasião histórica pode ser encontrada. Uma indicação possível da data
da composição é a semelhança entre os versículos 16-20 e Habacuque 3.10-15.
Embora a opinião entre os estudiosos difira, a prioridade do salmo parece
clara. Sendo assim, ele seria datado antes de 600 a.C. Outros veem na
referência a “Jacó” e “José” (15) uma indicação de que o Reino do Norte (José)
ainda existia e preferem uma data antes de 722 a.C. 1.
Tristeza (77.1-3) Dia e noite o salmista buscava o Senhor zelosamente
em oração. Ele estava profundamente angustiado. A KJV traduz a primeira parte
do versículo 2 da seguinte forma: “Minha chaga me afligia de noite”. Isso
sugere uma enfermidade física como uma das fontes da sua tristeza. No entanto,
a ARC segue uma tradução mais natural do texto hebraico: a minha mão se
estendeu de noite e não cessava, indicando os braços estendidos em súplica.
Qualquer que seja a causa da sua profunda tristeza, sua alma recusava ser
consolada, conforme Gênesis 37.35, em que Jacó se recusou ser confortado quando
recebeu a notícia da suposta morte de José. ANVI traduz com propriedade o versículo
3: “Lembro-me de ti, ó Deus, e suspiro; começo a meditar, e o meu espírito
desfalece”. Selá (3): cf. comentário em 3.2. 2. Busca
(77.4-9) Ao chegar no seu limite, o salmista inicia sua busca
por Deus. Ele lembra bênçãos passadas, e sua alma irrompe em uma agonia de
questionamentos. A memória de dias melhores no passado intensifica a dor do
estado presente. O sono foge dos seus olhos e suas tristezas o fazem ficar sem
fala (4). Os anos dos tempos passados (5) seriam “os anos de longa data
(passado)”. A miséria do momento traz à memória tempos passados quando havia um
cântico de noite (6; cf. 42.8; Jó 35.10). Meu espírito investigou por algum
raio de luz no meio da escuridão. A direção da busca do salmista é mostrada por meio
de seis perguntas que saem dos seus lábios. Esses são gritos genuínos do
coração e, não obstante, retóricos, no sentido de que eles claramente requerem
uma resposta negativa. Deus não o rejeitará para sempre (7); Ele não deixará de
se tornar favorável novamente; sua benignidade (“graça”, ARA; “amor”, NVI) não
cessou para sempre (8); sua promessa não acabará; Ele não se esqueceu de ter
misericórdia (9); Ele não encerrou (refreou) as suas misericórdias na sua ira. 3.
Entrega (77.10-15) As perguntas são seguidas de uma série de compromissos
indicados por repetidas promessas de entrega (10-12). O salmista começa a tirar
a atenção de si mesmo e voltar-se ao Salvador e encontra na memória da
fidelidade passada a fé para o cumprimento futuro. Isto é enfermidade minha
(10) provavelmente significa: “Esta é a minha provação, que Deus tem colocado
sobre mim”. A última parte do versículo é de difícil interpretação e tem sido
entendida de várias formas: “Esta é minha tristeza: que o Altíssimo já não tem
mais a força que tinha” (Moffatt); “Isto é a minha aflição; mudou-se a destra
do Altíssimo” (ARA); “Isto é a minha aflição; a mão direita do Altíssimo muda”
(Berkeley). Aqui o salmista alcança o ponto mais baixo. A única saída do fundo
do poço é para cima, e dessas profundezas de dúvida o salmista começa sua
ascensão (cf. Int. do salmo). A memória das obras do Senhor (11), as obras de
Deus, os seus feitos (12), o seu caminho (13) compelem à conclusão por meio de
outra pergunta retórica: Que deus é tão grande como o nosso Deus? O teu caminho
[...] está no santuário tem sido traduzido de várias formas: “Teus caminhos
[...] são santos” (NVI); “Teu procedimento é divino” (Moffatt); “O teu caminho
[...] é de santidade” (ARA). Todas enfatizam a pureza e justiça dos caminhos de
Deus. Tu fizeste notória a tua força (14), tanto por meio de demonstração como
por declaração. Com o teu braço remiste o teu povo (15) é uma típica descrição
veterotestamentária do imenso poder de Deus no Êxodo (cf. Êx 15.16; Is 63.12). 4.
Soberania (77.16-20) A supremacia de Deus tanto na natureza como na
história é celebrada na seção final desse salmo. O versículo 16 é similar ao
versículo 3 do Salmo 114, em que tanto o mar Vermelho como o rio Jordão são
mencionados. Nas duas situações, o poder de Deus sobre as águas foi evidente: e
tremeram. Aguaceiro, trovão, relâmpagos (17) e terremoto (18), todos são
evidências do poder do Deus Criador. Aquele que formou a terra também a
controla. Pelo mar foi teu caminho, e tuas veredas, pelas grandes águas; e as
tuas pegadas não se conheceram (19) — como Perowne menciona: “Nós não sabemos,
eles não sabiam, por quais meios exatamente ocorreu o livramento [...] e não
precisamos saber; a obscuridade, o mistério aqui, e em outras partes, fazia
parte da lição [...] Tudo que conseguimos enxergar distintamente é que no meio
dessa noite escura e terrível, com o inimigo se aproximando por trás, e o mar à
frente, Ele conduziu seu povo como ovelhas pela mão de Moisés e Arão”. Por
intermédio do terror e mistério de cruzar o mar Vermelho brilha o milagre do cuidado
de Deus pelo seu povo, como um pastor pelo seu rebanho. Embora fosse pela mão
de Moisés e de Arão (20), foi o Senhor que os guiou. Extraído do
Comentário Beacon – Volume III. Uma semana abençoada para todos os irmãos na Graça e
na Paz do Senhor Jesus Cristo! Márcio Celso REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Editora Betel 2º
Trimestre de 2020, ano 30 nº 115 – Revista da Escola Bíblica Dominical - Adultos
– Professor – A família natural segundo os valores e princípios cristãos –Salmos
– Uma referência para a vida de adoração e oração do cristão – Pr. Adriel
Gonçalves do Nascimento. Sociedade Bíblica
do Brasil – 2009 – Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida – Revista e
Corrigida. Sociedade Bíblica
do Brasil – 2007 – Bíblia do Obreiro – João Ferreira de Almeida – Revista e
Atualizada. Editora Vida –
2014 - Bíblia Judaica Completa – David H. Stern, Rogério Portella, Celso
Eronildes Fernandes. Editora Vida –
2014 – Bíblia de Estudo Arqueológica – Nova Versão Internacional. Editora Central
Gospel – 2010 - O Novo Comentário Bíblico – Antigo Testamento – Earl D.
Radmarcher, Ronald B. Allen e H. Wayne House – Rio de Janeiro. Editora Central
Gospel – 2010 - O Novo Comentário Bíblico – Novo Testamento – Earl D.
Radmarcher, Ronald B. Allen e H. Wayne House – Rio de Janeiro. Editora Vida –
2004 – Comentário Bíblico do Professor – Lawrence Richards. Editora Central
Gospel – 2005 – Manual Bíblico Ryken – Um guia para o entendimento da Bíblia –
Leland Ryken, Philip Ryken e James Wilhoit. Editora CPAD –
2017 – História dos Hebreus – Flávio Josefo. Editora CPAD –
2005 – Comentário Bíblico Beacon. Editora Vida – 2014 –
Manual Bíblico de Halley – Edição revista e ampliada – Nova versão
internacional – Henry Hampton Halley – tradução: Gordon Chown.
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